QUARENTENAS DE OUTROS TEMPOS. O LAZARETO DE GAIA.
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Ao contrário da perceção atual, noutros tempos as epidemias eram uma constante. O seu principal meio de propagação era a via marítima. Por isso em todos os portos de mar havia um "Lazareto", um local para onde se enviavam em degredo para quarentena as embarcações, os tripulantes, os passageiros e as mercadorias suspeitas de virem contaminadas de outros portos. Eram assim mantidos fora das povoações, sob vigilância e medidas profiláticas. Estes locais funcionavam articulados com as "bandeiras", grupos de guardas armados que controlavam os cordões sanitários face aos viajantes por terra no acesso às povoações.
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Em Vila Nova de Gaia o degredo chegou a ser feito no Cabedelo e em S. Paio, mas foi sobretudo no lugar de Vale de Amores, junto ao Rio Douro e a poente do Castelo de Gaia que o Lazareto persistiu durante séculos. Em 1430 a cidade do Porto, que administrava o Termo do Porto (o equivalente à atual Área Metropolitana) expropriou a Quinta de Vale de Amores a Álvaro Gonçalves Coutinho (o Magriço dos "Doze de Inglaterra") para aí estabelecer as quarentenas. No local havia uma ermida (cujas ruínas ainda existem...) e em 1569 os frades franciscanos aí mandam erguer o Convento de Santo António, agora de Vale da Piedade (hoje propriedade privada). A última vez que o local para tal serviu foi durante a epidemia da febre amarela em 1856. Sendo hoje o local conhecido com Quinta da Fraga, nada aí lembra as quarentenas de outros tempos; já o lugar da Bandeira permaneceu na toponímia gaiense e até num título nobiliárquico (Marquês de Sá da Bandeira). Para saber mais: BARROS, Amândio (2016) - Porto. A construção de um espaço marítimo no início dos tempos modernos. Lisboa: Academia de Marinha, p. 136 e seg.s.